terça-feira, 26 de outubro de 2010

minhas quedeminhasnadatêm crianças - bangkok

teve o da moto e os da bicicleta: cinco pessoas, quatro rodas - sem mim e sem as minhas. das pessoas importam três e pras rodas não tenho verso.

o primeiro, contra a lei de trânsito que nem sabe existir, não muito bem acomodado no mesmo banco dos pais - simpáticos cúmplices -, se esgueirava quase dançando por entre os braços do pai e os da moto. por detrás do retrovisor que lhe foi refúgio ao meu olhar, tímido, acho que conhecia o "cucuuuuiz... achooou!" da brincadeira do meu pai quando eu tinha a idade dele. perdi o sorriso que ele não me retribuiu na sinaleira aberta e na fumaça do trânsito dessa capital.


os segundos, que pra mim são irmãos, pedalavam uma bicicletinha tão pequena que me lembrou um mini-pônei. são daqueles que têm no canto da boca o atestado de uma traquinês sem-vergonha.
good morning!, o mais velho ensaiou. sawadee ka, eu respondi. good morning!, o mais novo insistiu. sawadee ka - eu não cedi. o mais novo saltou e ficou pra trás. o mais velho não resistiu ao resmungo de "volta aqui!" e fez o retorno sem dar pisca. me rodearam gargalhando e foram.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

minhas quedeminhasnadatêm crianças - bangkok

do cabelo bem preto e fino, no alto do mundo e me olhando firme durante o ínterim que meus passos permitiram à nossa história.

a guarita onde trabalhava quem eu decidi ser o pai era a única testemunha além de mim. falava com força, como que manda; apesar da firmeza que eu imagino nas palavras que não ouvi, tinha no rosto um sorriso de quem está no momento por inteiro. dava alguma ordem deliciosa a alguém que eu sei que emudecia do outro lado da linha.


o topo do mundo uma cadeira e o telefone uma banana, mas a firmeza daqueles olhos fincados bem debaixo da franja retinta era de verdade. o gostoso daqueles dentinhos à mostra, então!

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

"o apego não quer ir embora. diaxo!, ele tem que querer!"
(maria gadú)

apego.

apegar - pegar!- : é sentimento mas é de posse; e tomar posse sem antes possuir-se de puro bem-querer é perigoso; e puro bem-querer é raro.

a esperança de encontrar na mina do escasso, já abandonada, pelada, uma pepita pequena, olvidada, mas suficiente para justificar a minha posse, levou minhas mãos frustradas a revirar lama e estômagos mineiros: ele engoliu! engoliu o último resquício do meu puro bem-querer!
engoliu e contrabandeou. não digeriu minha pepita, no entanto. meu bem-querer mais puro passou pela língua, escorregou o esôfago, driblou-me no estômago, debateu-se intestinos a baixo e deixou um corpo sem que nada fosse aproveitado dele, nenhuma vitamina.

apossaram-se de mim quando meu bem-querer já era cocô de posseiro; um posseiro que não digeriu, não absorveu, não conheceu nem notou bem-querer puro, tão de verdade.

na verdade, maria, ele não vai querer.