domingo, 27 de novembro de 2011

não conseguia entender por que e, por isso mesmo, continuava com os dedos dele dentro da boca. paralisada, chupando os dedos de nós grossos, salgados de suor, empurrando a língua para baixo, empilhando com força as glândulas que salivavam de ansiedade. esfregava com raiva, de um lado para o outro, aquela almofada molhada e crespa. trocaram olhares diferentes: o dele tinha faíscas, o dela não tinha nada; só uma interrogação sem saber o que perguntava.

ficaram ali tempo o bastante pra que ele se satisfizesse, secando os dedos na parte de fora da coxa envolta em jeans frouxo e virando as costas para bater uma porta que não pretendia jamais abrir.

e ela não vai saber de que se tratou aquele ritual, porque ele não vai ligar pra explicar que, enquanto ela falava tudo aquilo que não condizia com nenhum gesto seu, ele pouco escutava - via apenas sair, daquela boca de mal pintada, blocos no lugar das palavras. quadrados, cubos maciços daquele monte de coisa que não precisava mais ser dita - não outra vez.

com a mão na boca dela, ele devolvia cada fardo de discurso vazio. esfregava nas papilas, que antigamente tinham gosto de baunilha, o amargor das palavras que ela articulara.

ele queria que aquele gosto entrasse na língua dela, pra que fosse o último que ela conseguisse sentir: o da própria falta de vergonha na cara.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

e, durante o abraço de despedida de braços firmes de vontade e mãos moles de falta de tato, não lembro se disse ter de comprar leite ou que a amava. intolerante à lactose e incapaz de amar, sei que menti e só.