domingo, 7 de fevereiro de 2010

minhas quedeminhasnadatêm crianças I

cumplicidade em julho: altruísta


o ônibus parou porque a sinaleira mandou;
em vermelho ela me abanou porque quis: ninguém mandou.

eu de uma janela da parte de trás, ela do canteiro central da rua, olhamos.
olhei calculando a idade dela: bem pouca.
olhamos fundo, uma para a outra, e eu respondi o aceno, sorrindo. ela levantou a cabeça ao longo do braço dado à mãe, que analisava o trânsito sem nos perceber. voltou-se para mim novamente e empurrou os olhos dentro dos meus.
deixou cair a pestana direita.
pisquei de volta.
em tom de desafio, desengonçada, piscou o esquerdo.
cerrei o esquerdo e o direito, um depois do outro, e ela respondeu com mais agilidade em um olho do que no outro: deve ser destra.

o nosso tempo se esgotou em verde.
tomei a iniciativa e levantei a mesma mão do oi para a despedida.
mostrei os dentes.
confidenciou-nos com os olhos, muda, à mãe, que não recebeu o olhar.
sabendo que ainda estávamos sozinhas, deixou sorrir os olhos para me responder.
abanou.

aquilo foi cumplicidade:
anônima, gratuita.
e, quando ela aprender o que é altruísta, concordará comigo.

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