domingo, 28 de fevereiro de 2010

hoje a noite acordou de cu virado porque a lua tá triste.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

(bunda...ele me disse bunda. oquêi, bunda.)

meu pai conheceu minha mãe pela bunda - ou mais ou menos isso. não tenho por que esmiuçar o como, mas foi sem perversão, só acaso.

na pior das hipóteses, é um objetivo: "se tudo der errado, eu ainda tenho a bunda a encontrar". todo mundo é movido por alguma coisa: ficar rico, jesus voltar, uma bunda.

concluo, então, que procuro pela minha bunda. não a minha própria bunda, mas a minha bunda - que não é a minha bunda, sabe?

domingo, 7 de fevereiro de 2010

minhas quedeminhasnadatêm crianças III



um ônibus que não o meu também esperava.
na rodoviária suja de não me lembro mais alguns poucos subiram; tantos menos desceram: não me lembro mais não deve ser tão legal assim (garanto o sossego ao meu esquecimento).

mal-acomodadamente enfiada na poltrona não muito anatômica, deixei cair meu pescoço cansado de se segurar. e dessa queda ganhei um presente. um corredor, dois bancos, um vidro, mais um corredor - esse de concreto, entre os ônibus - e outro vidro me separavam dele, que não precisou de proximidade after all. uma mão deformada a tentar passar pelo vidro e pegar naquilo tudo de uma vez! antecedia o olhar ansioso de quem não teve mais do que seis meses para conhecer as coisas. do alto do colo da mãe, trepada naquele ônibus, provavelmente experimentava pela primeira vez como era ver tudo tão de cima.
o olhar freneticamente vago acabou por encontrar o meu sem precisar do esforço de procurar. veio, então, com um lacinho de cetim, cartão com musiquinha e um adesivo cafona de "felicidades" em fonte fantasia, o meu presente: os dois únicos dentinhos que tinha completamente crescidos apareceram para mim e pelos olhos eu soube que aqueles poucos dentinhos eram o maior sorriso que ela tinha para me dar.
meu sonho de céu

almas distam etéreos metros infinitos, postas longe por asfaltos e distrações banais. malditas as estradas que me separam - são os caminhos que me conduzem, injustiçados por vastidão demais.
crendo na dimensão paralela de ingênuo surrealismo, meus pensamentos travestem-se e, por pontes, surgem a guiar minha nebulosa de sentimentos. construo minhas asas de sonho e alço vôo caçando nuvens de outro alguém. espero, sem tocar os pés no chão, pela que virá tão minha como predestinada, fazendo do cósmico abraçar de almas tão concreto quanto o papel que porta minha voz.


*(lá pro final de dois mil e sete)
minhas quedeminhasnadatêm crianças II

impotência gelada


os trinta minutos das seis horas de um dia frio, qualquer, me acordaram. meu café com leite tinha o mesmo gosto do de ontem e previa o sabor do da manhã seguinte. o frio me bateu na cara ao encarar a rua e, embora não lembre, sei que gostei. com o sono me tropegando os passos arrastei-me à parada. coloquei-me para dentro do ônibus certo na hora de sempre e sentei-me ao lado de uma janela que escorria frio. não lembro em que ou onde pensava, nem o que me tirou de lá, mas foi aí que enxerguei: franziníssimo, encardido de vida e trânsito.

muito encardimento pra pouca vida...

tinha três bolinhas amarelas, das de tênis, nas mãos.

a sinaleira fechada.
em vermelho eu o vi fazer um sinal da cruz estabanado, com as bolinhas em punho - pequenos. beijou cada uma das três, fechando os olhos com força, como se esperasse estar em um lugar melhor ao abri-los.

não foi dessa vez...

não posso dizer que vi, mas sei que malabarizou sem muita destreza, mecanicamente, provavelmente com olhos esvaziados de quem pensa noutro lugar - aquele de todo abrir de olhos.


eu assisti à cena gotejada do frio que fazia. lá fora.
e tudo ficou verde.
minhas quedeminhasnadatêm crianças I

cumplicidade em julho: altruísta


o ônibus parou porque a sinaleira mandou;
em vermelho ela me abanou porque quis: ninguém mandou.

eu de uma janela da parte de trás, ela do canteiro central da rua, olhamos.
olhei calculando a idade dela: bem pouca.
olhamos fundo, uma para a outra, e eu respondi o aceno, sorrindo. ela levantou a cabeça ao longo do braço dado à mãe, que analisava o trânsito sem nos perceber. voltou-se para mim novamente e empurrou os olhos dentro dos meus.
deixou cair a pestana direita.
pisquei de volta.
em tom de desafio, desengonçada, piscou o esquerdo.
cerrei o esquerdo e o direito, um depois do outro, e ela respondeu com mais agilidade em um olho do que no outro: deve ser destra.

o nosso tempo se esgotou em verde.
tomei a iniciativa e levantei a mesma mão do oi para a despedida.
mostrei os dentes.
confidenciou-nos com os olhos, muda, à mãe, que não recebeu o olhar.
sabendo que ainda estávamos sozinhas, deixou sorrir os olhos para me responder.
abanou.

aquilo foi cumplicidade:
anônima, gratuita.
e, quando ela aprender o que é altruísta, concordará comigo.