domingo, 7 de fevereiro de 2010

minhas quedeminhasnadatêm crianças III



um ônibus que não o meu também esperava.
na rodoviária suja de não me lembro mais alguns poucos subiram; tantos menos desceram: não me lembro mais não deve ser tão legal assim (garanto o sossego ao meu esquecimento).

mal-acomodadamente enfiada na poltrona não muito anatômica, deixei cair meu pescoço cansado de se segurar. e dessa queda ganhei um presente. um corredor, dois bancos, um vidro, mais um corredor - esse de concreto, entre os ônibus - e outro vidro me separavam dele, que não precisou de proximidade after all. uma mão deformada a tentar passar pelo vidro e pegar naquilo tudo de uma vez! antecedia o olhar ansioso de quem não teve mais do que seis meses para conhecer as coisas. do alto do colo da mãe, trepada naquele ônibus, provavelmente experimentava pela primeira vez como era ver tudo tão de cima.
o olhar freneticamente vago acabou por encontrar o meu sem precisar do esforço de procurar. veio, então, com um lacinho de cetim, cartão com musiquinha e um adesivo cafona de "felicidades" em fonte fantasia, o meu presente: os dois únicos dentinhos que tinha completamente crescidos apareceram para mim e pelos olhos eu soube que aqueles poucos dentinhos eram o maior sorriso que ela tinha para me dar.

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