"se o olho é a janela da alma, então você tem que olhar por essa janela com outro olho e esse outro olho também é janela da alma, e você tem que olhar por essa janela com outro olho. quer dizer: a janela não olha, quem olha é o olho através da janela (...) você vai ao infinito com essa história de janela da alma e nunca chega, na verdade, à própria alma." antônio cícero para o documentário de joão jardim e walter carvalho - a janela da alma (2002).
uma troca de olhares sem sentimento são janelas cegas dispostas paralelamente. só.
seja como for, olho é olho e minha alma não tem esquadria. pode até ter um buraco, mas não uma janela. a alma é o que é, irredutivelmente, como o único que poderia ser, por ser o determinante do que somos. os olhos não.
dos olhos contra a alma
por mais que falem bem mais do que se quer dizer, não são capazes da traição de ceder seus lugares ao rombo que permeia a irredutibilidade de quem se deve ser. não deixam que orbite sob as sobrancelhas, como uma brincadeira de mau gosto, a fraqueza que se é. se cruéis assim forem, no entanto, restará olhar para fora de um buraco vivo e cru, de uma carne etéra, pulsante e revelada, enxergando com a cegueira o mundo que se gostaria que fosse mas talvez não seja.
ou mais ou menos isso.
quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011
segunda-feira, 17 de janeiro de 2011
meu amor que nunca foi pra ser meu, eu sinto a tua falta. mentira; dessas pequenas que não me convencem de ser capaz de sentir algo puramente bom. sem medo, remorso, pena. sem egoísmo travestido de ambição, sem preguiça. sem impotência, incerteza, inaptidão, incertidão, invontade, insorrisos tão invadidos por tudo que faz tanta, tanta falta...
e ela sabia que era verdade.
e ela sabia que era verdade.
quinta-feira, 13 de janeiro de 2011
oscar wilde disse "dificuldade" (em "de profundis", pág 74 - e a minha obsessão pelo 12 -, décima segunda palavra - L&PM pocket herdado em shanghai)
+ dade: de adjetivo a substantivo; qualidade à substância; opinião ao quase fato.
difícil é relativo e a dificuldade também é de cada um. a faculdade de transposição é adquirida, trabalhada e injustamente irmã do meu mais recente neologismo. difaculdade de dificultar: a dupla qualificação para agir conforme se diz dever sem querer; a redundante capacidade de tornar-se um completo idiota.
dois a ficar substantivando
di ficu (l) dade
dois que somam quatro idiotas na difaculdade de divagar substancialmente sobre substantivos subordinados a outras bocas.
subterfúgios de fuga da realidade do não tão fácil assim.
+ dade: de adjetivo a substantivo; qualidade à substância; opinião ao quase fato.
difícil é relativo e a dificuldade também é de cada um. a faculdade de transposição é adquirida, trabalhada e injustamente irmã do meu mais recente neologismo. difaculdade de dificultar: a dupla qualificação para agir conforme se diz dever sem querer; a redundante capacidade de tornar-se um completo idiota.
dois a ficar substantivando
di ficu (l) dade
dois que somam quatro idiotas na difaculdade de divagar substancialmente sobre substantivos subordinados a outras bocas.
subterfúgios de fuga da realidade do não tão fácil assim.
terça-feira, 26 de outubro de 2010
minhas quedeminhasnadatêm crianças - bangkok
teve o da moto e os da bicicleta: cinco pessoas, quatro rodas - sem mim e sem as minhas. das pessoas importam três e pras rodas não tenho verso.
o primeiro, contra a lei de trânsito que nem sabe existir, não muito bem acomodado no mesmo banco dos pais - simpáticos cúmplices -, se esgueirava quase dançando por entre os braços do pai e os da moto. por detrás do retrovisor que lhe foi refúgio ao meu olhar, tímido, acho que conhecia o "cucuuuuiz... achooou!" da brincadeira do meu pai quando eu tinha a idade dele. perdi o sorriso que ele não me retribuiu na sinaleira aberta e na fumaça do trânsito dessa capital.
os segundos, que pra mim são irmãos, pedalavam uma bicicletinha tão pequena que me lembrou um mini-pônei. são daqueles que têm no canto da boca o atestado de uma traquinês sem-vergonha.
good morning!, o mais velho ensaiou. sawadee ka, eu respondi. good morning!, o mais novo insistiu. sawadee ka - eu não cedi. o mais novo saltou e ficou pra trás. o mais velho não resistiu ao resmungo de "volta aqui!" e fez o retorno sem dar pisca. me rodearam gargalhando e foram.
o primeiro, contra a lei de trânsito que nem sabe existir, não muito bem acomodado no mesmo banco dos pais - simpáticos cúmplices -, se esgueirava quase dançando por entre os braços do pai e os da moto. por detrás do retrovisor que lhe foi refúgio ao meu olhar, tímido, acho que conhecia o "cucuuuuiz... achooou!" da brincadeira do meu pai quando eu tinha a idade dele. perdi o sorriso que ele não me retribuiu na sinaleira aberta e na fumaça do trânsito dessa capital.
os segundos, que pra mim são irmãos, pedalavam uma bicicletinha tão pequena que me lembrou um mini-pônei. são daqueles que têm no canto da boca o atestado de uma traquinês sem-vergonha.
good morning!, o mais velho ensaiou. sawadee ka, eu respondi. good morning!, o mais novo insistiu. sawadee ka - eu não cedi. o mais novo saltou e ficou pra trás. o mais velho não resistiu ao resmungo de "volta aqui!" e fez o retorno sem dar pisca. me rodearam gargalhando e foram.
quarta-feira, 20 de outubro de 2010
minhas quedeminhasnadatêm crianças - bangkok
do cabelo bem preto e fino, no alto do mundo e me olhando firme durante o ínterim que meus passos permitiram à nossa história.
a guarita onde trabalhava quem eu decidi ser o pai era a única testemunha além de mim. falava com força, como que manda; apesar da firmeza que eu imagino nas palavras que não ouvi, tinha no rosto um sorriso de quem está no momento por inteiro. dava alguma ordem deliciosa a alguém que eu sei que emudecia do outro lado da linha.
o topo do mundo uma cadeira e o telefone uma banana, mas a firmeza daqueles olhos fincados bem debaixo da franja retinta era de verdade. o gostoso daqueles dentinhos à mostra, então!
a guarita onde trabalhava quem eu decidi ser o pai era a única testemunha além de mim. falava com força, como que manda; apesar da firmeza que eu imagino nas palavras que não ouvi, tinha no rosto um sorriso de quem está no momento por inteiro. dava alguma ordem deliciosa a alguém que eu sei que emudecia do outro lado da linha.
o topo do mundo uma cadeira e o telefone uma banana, mas a firmeza daqueles olhos fincados bem debaixo da franja retinta era de verdade. o gostoso daqueles dentinhos à mostra, então!
sexta-feira, 1 de outubro de 2010
"o apego não quer ir embora. diaxo!, ele tem que querer!"
(maria gadú)
apego.
apegar - pegar!- : é sentimento mas é de posse; e tomar posse sem antes possuir-se de puro bem-querer é perigoso; e puro bem-querer é raro.
a esperança de encontrar na mina do escasso, já abandonada, pelada, uma pepita pequena, olvidada, mas suficiente para justificar a minha posse, levou minhas mãos frustradas a revirar lama e estômagos mineiros: ele engoliu! engoliu o último resquício do meu puro bem-querer!
engoliu e contrabandeou. não digeriu minha pepita, no entanto. meu bem-querer mais puro passou pela língua, escorregou o esôfago, driblou-me no estômago, debateu-se intestinos a baixo e deixou um corpo sem que nada fosse aproveitado dele, nenhuma vitamina.
apossaram-se de mim quando meu bem-querer já era cocô de posseiro; um posseiro que não digeriu, não absorveu, não conheceu nem notou bem-querer puro, tão de verdade.
na verdade, maria, ele não vai querer.
(maria gadú)
apego.
apegar - pegar!- : é sentimento mas é de posse; e tomar posse sem antes possuir-se de puro bem-querer é perigoso; e puro bem-querer é raro.
a esperança de encontrar na mina do escasso, já abandonada, pelada, uma pepita pequena, olvidada, mas suficiente para justificar a minha posse, levou minhas mãos frustradas a revirar lama e estômagos mineiros: ele engoliu! engoliu o último resquício do meu puro bem-querer!
engoliu e contrabandeou. não digeriu minha pepita, no entanto. meu bem-querer mais puro passou pela língua, escorregou o esôfago, driblou-me no estômago, debateu-se intestinos a baixo e deixou um corpo sem que nada fosse aproveitado dele, nenhuma vitamina.
apossaram-se de mim quando meu bem-querer já era cocô de posseiro; um posseiro que não digeriu, não absorveu, não conheceu nem notou bem-querer puro, tão de verdade.
na verdade, maria, ele não vai querer.
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